quinta-feira, abril 10, 2008

o preço que se paga

Estou sentada às margens do rio que faz fronteira com meu vale da morte. As pessoas conhecidas pelas quais tenho carinho são vultos distantes na escuridão. Acho que a coisa mais curiosa desse mundo é ter que escolher entre extremos, quando poderíamos calmamente andar entre eles. Faço escolhas porque preciso e quando não posso evitar, mas sempre pego um desejo meu, rasgo no meio e levo uma metade, abandonando outra ao longo do meu caminho. Resgato esses milhões de pedaços só em memórias e suposições do que poderia ter sido. Lembro desses seres dos quais faço parte, meus amigos, e de repente sinto como laços vão e vêm e, no fim, só me resta um vale escuro, e meus pensamentos. Só tenho a mim mesma.
Nesse lugar em que me encontro, onde o ar que respiro é angústia, fico pensando em quantas coisas mais vou ter que rasgar pra me manter em pé, andando. E o pior é que meus passos nunca são firmes, mas trêmulos e desengonçados, como se eu não tivesse a habilidade de me manter em equilíbrio por muito tempo. São as consequências de tanta ruptura, tanta inconstância e uma indecisão que aniquila meus focos.
Passo semanas, meses, achando que estou bem. Daí, um belo dia, um pequeno acaso, um pequeno erro e minhas frágeis colunas de cinzas (de pensamentos incandescentes) é soprada pelos ventos da mudança, desabando. Elas caem, e são gritos de horror e berros de angústia silenciosos me trespassando.
Só queria saber até quando vai durar isso... Até quando minhas colunas mentais serão de cinzas, até quando minhas explosões vão ser de dor. Ou quanto tempo vou aguentar passar por isso. Porque enquanto me mantenho cada vez mais anestesiada e forte, mais minha resistência aumenta. Parece progressão geométrica.. Tem uma razão, que multiplica o tanto de dor que eu tenho que sentir da próxima vez, pra ficar na merda.
Conto com a sorte pra minha vida ficar mais leve, as coisas mais fáceis, mas por enquanto só tem piorado, e os intervalos de tempo em que me sinto mal são cada vez mais longos. Contudo, cada crise me devasta mais, parece que destrói mais, e assim vão minhas boas memórias escoando pelo ralo, ou pelo ouvido, cedendo lugar a cada mínima coisa das quais me culpo.
Mas como tudo são experiências, a dor é minha aliada em meus sonhos de ser uma criadora. O problema é confrontar as coisas das quais tenho vergonha, e essas espero que nunca passem pra nenhum papel. O problema é que são essas as coisas que mais preciso escoar, e não tenho coragem de dizer uma palavra.
As pessoas se sentem triunfantes quando descobrem erros de caráter nas outras, e eu tenho inúmeros. E uma coisa que elas têm que entender é que eu tenho consciência de cada um deles melhor que qualquer um. Quem sente a culpa sou eu, quem colhe os frutos sou eu. Por isso me mantenho reclusa, às vezes, à beira do meu rio de fogo.
Só espero o belo dia em que atravessarei esse rio, vestida só de aura, pra me encontrar com o mais profundo de mim mesma em paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto, já tive a mesma sensação, é sempre assim? mudanças ao acaso?

Boas energias!
Beijão!

Maya disse...

depois de pagar o preço

não aceitam devoluçao nao?

;/

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