quinta-feira, setembro 25, 2008

comentando "o Caderno Rosa de Lori Lamby", de Hilda Hilst (a imagem é La Lectrice soumise. 1928. Oil on canvas. René Magritte)



Sentei aqui pra escrever um pouco, pra ver se eu descanso a cabeça de tanto estudo e exteriorizo um pouco dos meus conflitos; só que as coisas que eu quero falar, não posso. É segredo, sabe.. Só eu sei. E espero que continue desse jeito. Eu já sou uma pessoa bem reservada, e queria ser bem mais. Muito mais.

Então, vou falar de "O caderno rosa de Lori Lamby", da Hilda Hilst.

O livro é simplesmente o diário de uma menina de 8 anos que sofre de "abusos" sexuais. Os pais(o pai é escritor fracassado, super-nervoso, histérico e indiferente à filha, e a mãe, ninfomaníaca e mercenária), imorais, a prostituem para pedófilos, com algumas restrições ao uso da menina. Tem coisas que os clientes podem fazer, e coisas que não podem.

Até aí, horrível, indignante, mas existente, infelizmente. Já ouvimos falar dessas coisas; eu, pessoalmente, sentindo repugnância, no mínimo.
Só que aí entra o mais bizarro da história: a menina gosta! Ela não é maltratada. Ela simplesmente tem a sexualidade despertada como uma coisa natural. Ela gosta de ser lambida, acha normal pegar num pau, gosta que mexam no cu dela. É seco assim! E ela gosta ainda mais porque é uma coisa boa que a faz ganhar dinheiro e presentes, sentindo prazer. "tem gente que nasceu pra lamber e gente que nasceu pra ser lambida", diz a menina.

A Hilda Hilst simplesmente deu um nó na minha cabeça. Humor negro brilhante, pedofilia sem choque, prostituição infantil sem abuso sexual, sexo visto como brincadeira por uma criança. Como assim?!?!?!?!???

Ela mexe tão profundamente com nossos conceitos de certo e errado, e com um assunto tão grotesco e indignante, que dou graças a deus que isso seja só uma ficção. Foi tão paradoxal ler esse livro, que eu não sabia se ria ou se chorava com ele. É muita ousadia dela escrever um negócio desses, e meio assustador falar a respeito.

É genialmente depravado, morbidamente hilário, e uma delícia escatológica pra mente.

sinceramente, ...

faz caio fernando abreu parecer uma ninfeta virgem burguesa judia ortodoxa, de 15 anos de idade, superprotegida pelos pais.



meu deus, e o pior é que eu gostei do livro!

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