Respirar.
Minha criatividade anda doente. Outra sombra. 
Um quadrado de luz no meu quadro branco!
A campainha toca. Deduzi quem é, não queria saber. 
Os gritos de sempre. 
As falas, as vozes, a invasão auditiva do meu espaço. 
Não queria ouvir.
A água corre pelos encanamentos, fazendo barulho abafado de estrelas. 
O cachorro está engasgado.
E eu, deitada e suja, bagunçada. 
A água escapa volumosa pela torneira. Barulho de vento rápido. 
Lá atrás, gritos. Gritos. "A água, floratil, cadê ela?" Cachorro tosse.
baruulho de estômago doente nos encanamentos. [Ela diz: deixa eu ir, filha!] Vá.
Conversas, risos, deduções. 
Meu pequeno inferno.
Deitada na bagunça. Minha mente explode em várias direções. Pensamentos paralelos e dentro do mesmo plano. É um plano-sequência. Ela grita. Ela grita. 
Eu tenho fones de ouvido e músicas. Mas estou alimentando com o que vem de fora, julgando negativamente, me metendo num redemoinho de más impressões.
Tem um quadrado de luz no meu quadro branco. Meu amor é mais fraco que meu ódio. Não deveria ser. Meu amor tem que ser mais forte do que qualquer coisa. 
[Um coração sendo espremido em uma mão]
 
 
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